Ao contrário do que alguns defendem, Vladimir Putin foi, para mim, a Personalidade do Ano de 2015 e parece que os israelitas concordam comigo.
Ainda agora começou o ano de 2016 e já Putin criou impacto em toda a imprensa internacional:
- A Rússia anunciou a propositura de uma acção contra a Ucrânia por incumprimento de uma obrigação emitida no valor de 3 mil milhões de dólares com data de vencimento a 31 de Dezembro de 2015;
- Entram em vigor as sanções contra a Turquia;
- Entram em vigor as sanções contra a Ucrânia, que incluem medidas de garantia da segurança económica da Rússia relativamente ao comércio marítimo;
- O anúncio das prioridades da política externa russa para 2016;
- Putin assinou o Decreto que actualiza o Plano Estratégico de Segurança Nacional, no qual se reitera a ameaça que o Ocidente representa através dos EUA e da NATO.
Esta última notícia gerou muita excitação sobretudo pelas definições de "ameaça". Mas é o discurso de Ano Novo de Vladimir Putin que tem provocado o maior furor.
Em primeiro lugar, trata-se de um discurso curto, directo, sem grandes adornos e pragmático. O Presidente russo podia dedicar-se a uma mensagem fraterna, de esperança ou alusiva à revitalização da economia - tema sensível na Rússia actual dada a conjuntura actual. Podia apostar numa mensagem simples com chavões sob a forma de desejos para o novo ano. Também podia apelar aos valores religiosos como forma de motivar a população para 2016. Podia ainda apresentar um discurso a enaltecer a grandeza da Rússia e prospectivar que a Rússia vai atingir o auge e destronar EUA e China ou até dirigir palavras duras e ameaçadoras contra Estados terceiros.
Putin não fez nada disto. Putin dedicou o tema do seu discurso exclusivamente ao garante da sobrevivência do país: começou por agradecer a todos os que permitem que a Rússia subsista, não excluindo ninguém, ainda que faça referências em abstracto, mas incluindo todos, desde o simples comerciante e da empregada de limpeza que contribuem para a economia russa, às Forças Armadas que protegem o país contra as ameaças.
São, aliás, os militares os destinatários especiais das suas palavras. E são-no por dois motivos: as Forças Armadas são a instituição não política que mais confiança merece da população (com taxa de aprovação acima dos 80%); são quem tem a responsabilidade de combater o Da'esh na Síria e proteger as fronteiras contra as ameaças externas (e também internas).
E a necessidade de garantir a segurança interna e externa sucede numa altura em que as ameaças globais emergem contra diversos alvos, incluindo a Rússia, sobretudo a Rússia, que se vê cercada de ameaças que tendem a gerar consenso (o terrorismo e o Da'esh) e outras que dependem de que lado se pretende estar (a expansão militar dos EUA e da NATO e o aproveitamento de relações bilaterais e blocos regionais para atacar pela via económica).
No dia em que foi publicado o Decreto assinado por Putin a actualizar o plano estratégico de segurança nacional e que antecede a entrada em vigor de retaliações contra quem ataca os interesses russos, Putin recorda a importância dos que protegem o país com armas e estimulam a economia, garantindo a existência da sociedade russa.
O golpe final no discurso de Vladimir Putin surge na referência ao 70.º aniversário da Vitória na Grande Guerra Patriótica (II Guerra Mundial), o que é feito como forma de dirigir um recado a todos os que, directa ou indirectamente, de forma mais ou menos veemente, visam a destruição ou ameaçam a Rússia. Para todos eles, com esta referência à vitória russa na II Guerra, Putin está a fazer um alerta, dizendo "lembrem-se do que aconteceu aos que nos quiseram atacar: foram todos derrotados e ainda hoje estamos a celebrar a nossa glória".
Acredito que, em 2016, a Rússia tudo fará ao seu alcance para respeitar a sua longa história e prevalecer sobre qualquer tipo de ameaça à sua existência. 2016, promete!
1 comentário:
Interessantes observações, as suas, de um discurso que nos promete um ano de 2016 pelo menos tão interessante como foi o de 2015, na perspectiva, claro, da política externa russa. Ao caos intencional ou incompetente promovido pela politica externa dos EUA, a Rússia respondeu sempre, sempre, com clarividência e superior táctica. O que, para nós, vulgares mortais, é óptimo, pois se Vladimir Putin não fosse tão sábio, já teríamos garantida uma guerra de grandes dimensões no palco europeu!
Esperemos os próximos movimentos de peças no tabuleiro...
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